Um ano sem Suassuna
23 DE julho DE 2015Enxertados no livro mais recente, frisa Carlos Newton Júnior, também estão vários poemas escritos por Ariano Suassuna há muitos anos. Essa é uma das explicações para a ausência de obras de poesia na bibliografia do dramaturgo. “Ele postergou a publicação desses textos porque estava incluindo nessa última, que é toda em diálogos, com os personagens declamando”. Segundo a agência literária Riff, responsável pela obra de Ariano, e Dantas Suassuna, um dos filhos do escritor, ainda não há previsão para o lançamento.
Sobre O jumento sedutor, qual sua expectativa no que diz respeito à recepção do público e da crítica?
É um livro para poucos leitores a cada geração, assim como outras grandes obras, a exemplo de Grande Sertão: Veredas. Só mergulha nesse universo o leitor mais maduro. Este é um livro para leitores de Ariano. Ele próprio dizia que A pedra do reinoé uma espécie de introdução. Você precisa conhecê-la para entender O jumento sedutor, que é uma continuação – não no plano original, de uma trilogia, mas uma continuação.
Além desse, que outros textos inéditos foram deixados por Ariano? Qual a importância deles?
Ele deixou muita coisa inédita. Da década de 1950, há muitas críticas literárias publicadas no jornal Folha da manhã, hoje extinto. Além do vasto número de poemas, há peças de teatro anteriores ao Auto da Compadecida, romances inéditos, como O sedutor do Sertão, escrito na década de 1960, antes de A pedra do reino. Ele tem um espólio grande, e naturalmente isso vai saindo aos poucos. Como disse uma vez Jarbas Maciel (um dos fundadores do Movimento Armorial), a obra de Ariano só pode ser compreendida através de uma visão sistêmica. Você só pode entender o romance se também fizer uma incursão pelos poemas, pelo teatro. Os gêneros dialogam. Um gênero joga luz sobre outros.
Depois da morte de Ariano, como fica o Movimento Armorial? Gerou frutos? Continua vivo?
Algumas pessoas enxergam o Movimento Armorial como algo fechado. Não vejo assim. É algo que sugere aos artistas um mergulho na tradição, aponta uma direção para cada um percorrer o próprio caminho. Isso pode ser visto na gravura de Samico, que é armorial, e voltada para o diálogo com a gravura popular. O Movimento Armorial não é um grupo que se reúne, mas tem princípios seguidos por vários artistas. Você encontra artistas em várias partes do Brasil que continuam inspirados e influenciados pelo Movimento.