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Tiago Ferro: o poder da ficção para falar do luto, da vida e da sociedade atual

29 DE julho DE 2024
Crédito: SP Leituras

O escritor e editor paulista Tiago Ferro foi o convidado do programa Segundas Intenções de agosto, reunindo, na oca da Biblioteca Parque Villa-Lobos, um público participante que pode interagir com o autor durante todo o bate-papo conduzido pelo jornalista e tradutor Alexandre Agabiti Fernandez. Ferro -  autor dos premiados romances O pai da menina morta (2018), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2019 na categoria Melhor Romance de Estreia, que também ganhou o Prêmio Jabuti no mesmo ano, e O seu terrível abraço (2023), ambos lançados pela editora Todavia, obras publicadas na Colômbia, Argentina, Portugal e Suécia - falou sobre sua carreira, seus processos criativos, peculiaridades da profissão, obras já publicadas e projetos que estão por vir. 

 

Histórias que se dão na literatura e através da ficção

 

O romance O pai da menina morta nasceu de uma inspiração autobiográfica. Foi escrito um ano após a morte de sua filha, em 2016, quando o fato foi amplamente divulgado pelas redes sociais. Depois de publicar um longo artigo na revista Piauí sobre este acontecimento real da sua vida, Ferro encontrou na escrita ficcional uma forma de elaborar e lidar com o luto e, sobretudo, falar sobre a vida daqueles que ficaram e que tiveram de suportar diversas formas de sofrimento diante do ocorrido. 

 

Publicado em 2018, o livro traz uma narrativa fragmentada para organizar os episódios, uma mescla de textos em formato de diários com outras modalidades de escrita como e-mails, mensagens de WhatsApp, diálogos e trechos de outros autores que funcionam como pequenos contos. “Escrever ficção aconteceu de maneira natural; a minha própria experiência, a morte da minha filha me levou, de algum modo, à escrita”, diz Ferro. Ele lembra que, embora carregada por um filtro muito particular, a obra é atravessada pela ficção: "é um romance”, enfatizou. 


A escolha por escrever romances não foi por acaso. Segundo o autor, um tipo de texto (ou arte) que se aproxima do realismo e que traz a possibilidade de narrar experiências cotidianas em que a linearidade do tempo pouco importa. Conjugar os vários tempos, memórias e acontecimentos com uma atitude investigativa e crítica sobre a sociedade, e transformaar tudo isso em literatura, é um aspecto que define a universalidade das obras de Ferro. “É uma maneira de ir além da minha própria história, conclui. “O lugar do livro é privilegiado, de liberdade, e o tempo linear não funciona para a escrita do romance”, disse.  Sobre seu processo criativo, o escritor conta que reescreve pouco seus textos, tendo como referência o ritmo da oralidade, não obedecendo ordens pré-estabelecidas. “Faço descobertas enquanto escrevo e encontrei o romance durante o próprio ato de escrever”, afirmou.


Uma aposta nas fichas na verdade da ficção

O romance permite fazer uma crítica à sociedade que eu não poderia fazer como um leitor. Faço uma aposta nas fichas da verdade da ficção”, observa Ferro. Nesta perspectiva, seu segundo romance, lançado em 2023, O seu terrível abraço, explora conflitos sociais, políticos e existenciais de um ponto de vista geracional e de classe social. Tem como protagonista um intelectual branco, de classe média, que é diagnosticado com uma doença terminal. O drama pessoal do personagem escritor tem como pano de fundo as frustrações da geração que amadureceu depois da redemocratização do Brasil e a crise social que culminou nas manifestações de 2013.


Ensaísta, acadêmico e escritor



Nascido em São Paulo em 1976, Tiago Ferro é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, titulação obtida com seu estudo sobre a obra do crítico literário Roberto Schwarz. Além disso, foi visiting fellow da Princeton University (2023-2024). É editor pioneiro na publicação digital de qualidade, sendo um dos fundadores da editora independente e-galáxia e da revista de ensaios Peixe-elétrico, onde publicou, no Brasil, a escritora chilena Diamela Eltit e o escritor argentino Ricardo Piglia, entre outros nomes. Ele também é colaborador da Revista Piauí e da Folha de S. Paulo.

 

O bate-papo na íntegra em breve poderá ser visto no canal da BVL no YouTube. Acompanhe!  

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