“Falta no Brasil um debate que não seja tóxico”
08 DE dezembro DE 2021No dia 06 de dezembro, o programa Segundas Intenções recebeu o filósofo, historiador e escritor Leandro Karnal. A edição especial, com mediação do também do escritor e jornalista Manuel da Costa Pinto, foi realizada em comemoração aos 7 anos da Biblioteca Parque Villa-Lobos. Dono de uma retórica impecável, Karnal falou o quanto os estudos contribuíram para o seu desempenho profissional, seja na carreira acadêmica ou como palestrante e comentarista. Também abordou assuntos como religião, ética, política, literatura e música.
Ao contar sobre sua formação, o escritor disse que, vista de longe, a vida parece feita de escolhas quando na verdade a maioria das decisões nascem por contingência. Foi assim ao optar pelo curso de História quando na verdade gostaria de cursar filosofia ou quando mudou o tema da sua tese de doutorado porque em outra área teria mais chances de obter uma bolsa de estudo.
Karnal é um apaixonado por livros desde a infância e diz ter tido a sorte de possuir uma biblioteca em casa, o que possibilitou logo cedo entrar em contato com a obra completa de Monteiro Lobato e, posteriormente, dedicar-se a Eça de Queiroz e José de Alencar. Recorda-se também de frequentar nos fins de semana a biblioteca da sua cidade e exatamente por isso acredita que o papel das bibliotecas na formação das pessoas precisa ser enfatizado. “Tive o privilégio de ver na Biblioteca Parque Villa-Lobos e na Biblioteca de São Paulo pessoas em pleno sábado lendo e passando o tempo por lá. Faltam mais equipamentos desse tipo, mais apoio, porque são ambientes agradáveis que inseminam as pessoas.”
Dos livros da juventude até abraçar textos mais densos, como os clássicos da literatura e os grandes pensadores da atualidade e de séculos passados, foi um pulo. Sua erudição o ajudou, inclusive, a ganhar popularidade em seus 38 anos de magistério. “Para sobreviver todo professor precisa ser um pouco ator, um pouco psicológico, às vezes até veterinário, ter tiradas engraçadas, dominar a cena. Quem não é hábil na teatralidade não sobrevive”, comenta. Ensinamentos e dialética que ele levou para suas palestras e participações em programas de rádio, TV e internet, com o intuito de derrubar a apatia do público e a resistência ao conhecimento. “Tenho grande orgulho de ser a porta de acesso a essa descoberta cultural”, acrescenta.
Apesar de declarar-se ateu, o escritor possui um relacionamento estreito com a religião por ser, assim como a psicanálise, um canal de descoberta do “eu” e trazer questionamentos do que esse “eu” pode fazer em relação ao mundo. Além disso, acredita que as metáforas presentes nos escritos religiosos ensinam a ler as grandes obras. “Como vou ler Machado se eu não souber a narrativa de Esaú e Jacó, como vou saber que o conto A igreja do diabo é uma recriação do livro de Jó adaptado a um certo niilismo.”
Karnal também destacou a urgência e a necessidade do mundo acadêmico abrir um canal de diálogo com o grande público. “Tenho clareza de que parte dos dramas que vivemos no país, a vitória de certas irracionalidades sobre a vacina, a terra, a política, decorre da falta de diálogo de grandes intelectuais com a sociedade.” Por fim, ao tratar da sua forte amizade com os profissionais de diferentes linhas de pensamento, como Luiz Felipe Pondé, Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho, reforçou a importância das pessoas não se fecharem em suas convicções e que sempre é possível aprender algo de relevante com o outro, bastando estar aberto para ouvir. Veja a entrevista a completa no canal do Youtube da BVL.
Se desejar ler algum livro do escritor, no acervo físico da BVL está disponível A coragem da esperança e no acervo digital O dilema do porco espinho: como encarar a solidão.