Dias de Clarice
09 DE dezembro DE 2013Há 36 anos, em 9 de dezembro de 1977, morria a escritora Clarice Lispector, nascida há 93 anos, em 10 de dezembro de 1920.
Natural da Ucrânia e com o nome de Haia Pinkhasovna Lispector, Clarice chegou a Maceió (AL) em março de 1922, quando tinha apenas um ano e dois meses de idade – os pais fugiam da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa de 1918-1920. Isto a fazia afirmar que não tinha nenhuma ligação com a Ucrânia, já que naquela terra ela nunca havia literalmente pisado, só carregada de colo.
Clarice começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade de Recife, onde passou parte da infância. Em 1930, sua mãe morreu em decorrência da sífilis, supostamente contraída devido a um estupro durante a Guerra Civil Russa. Clarice sofreu muito com este fato e alguns de seus textos refletem a culpa que a autora sentia.
Quando tinha quinze anos seu pai decidiu se mudar para a cidade do Rio de Janeiro. Em 1939, foi aceita para a Escola de Direito na então Universidade do Brasil, mas se viu frustrada com muitas das teorias ensinadas no curso. Foi nesta época que descobriu um escape: a literatura. Em 25 de maio de 1940, com apenas 19 anos, publicou seu primeiro conto, Triunfo, na revista Pan, de propriedade do editor José Scortecci.
Em 1943, publicou seu primeiro romance, Perto do coração selvagem. No mesmo ano, formou-se em Direito e casou-se com o colega de turma Maury Gurgel Valente, futuro pai de seus dois filhos. Maury foi aprovado no concurso de admissão na carreira diplomática, e passou a fazer parte do quadro do Ministério das Relações Exteriores. Em suas viagens como esposa de diplomata, Clarice morou na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e Suíça.
Em 1959, após separar-se do marido e voltar definitivamente ao Rio de Janeiro com os filhos, Clarice assina a coluna "Correio feminino - Feira de Utilidades", no jornal carioca Correio da Manhã, sob o pseudônimo de Helen Palmer. No ano seguinte, assume a coluna "Só para mulheres", do Diário da Noite, como ghost-writer da atriz Ilka Soares.
Durante a década de 1970, após ser demitida do Jornal do Brasil (todos os judeus que trabalhavam na publicação foram demitidos neste período), a autora começa a traduzir livros do francês e do inglês para a Editora Artenova.
A obra de Clarice ultrapassou qualquer tentativa de classificação. A escritora e filósofa francesa Hélène Cixous vai ao ponto de dizer que há uma literatura brasileira a.C. (Antes da Clarice) e d.C. (Depois da Clarice). Em artigo publicado no jornal The New York Times, no dia 11 de março de 2005, a escritora foi descrita como o equivalente de Kafka na literatura latino-americana. A afirmação foi feita por Gregory Rabassa, tradutor para o inglês de Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e de Clarice.
Veja o que você encontra da escritora na BSP:
A hora da estrela (também em Braille)
Editora Rocco
A história da nordestina Macabéa é contada passo a passo pelo escritor Rodrigo S.M., alter-ego de Clarice Lispector, de um modo que busca permitir aos leitores acompanhar o seu processo de criação. O autor faz o relato da vida triste e sem perspectiva da alagoana Macabéa, pontuada com as informações do 'Você sabia?' da rádio Relógio, sinistro metrônomo a comandar o ritmo de seus últimos dias de vida. Para a cartomante Carlota, a quem Macabéa procura em busca de um sopro de esperança, esses dias derradeiros deveriam ser coroados com o casamento com um estrangeiro rico. Mas, ironicamente, Macabéa termina sob as rodas de um automóvel de luxo Mercedes-Benz.
A legião estrangeira
Editora Rocco
Os 13 contos de A legião estrangeira abordam o cotidiano familiar, a perversidade infantil e a solidão. Entre os contos, 'Viagem a Petrópolis', escrito quando Clarice tinha apenas 14 anos. Neste, a escritora narra a solidão de uma velhinha que, sem lugar para morar, é empurrada de uma casa para outra. Em 'Os desastres de Sofia' a autora aborda a perversidade infantil por meio do relacionamento de uma aluna com seu professor. A vulnerabilidade dos animais diante dos homens, e vice-versa, está presente em 'A Quinta História', 'Macacos' e ainda em 'A Legião Estrangeira'.
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres
Editora Rocco
Nesta obra, Lóri é a personagem central, enquanto Ulisses ocupa um papel secundário, mero referencial para os pensamentos e atitudes de Lóri. O livro conta, acima de tudo, a viagem empreendida por Lóri em busca de si própria e do prazer sem culpa. Uma viagem na qual Ulisses funciona como um farol, indicando onde estão os perigos e o caminho correto para a aprendizagem do amor e da vida.
Água viva
Editora Rocco
Água viva é um livro em forma de monólogo. A personagem principal é uma solitária pintora que se lança em reflexões sobre o tempo, a vida e a morte, os sonhos e visões, as flores, os estados da alma, a coragem e o medo e, principalmente, a arte da criação, do saber usar as palavras num jogo de sons e silêncios que se combinam.
A maçã no escuro
Editora Rocco
Neste livro, o atordoado Martim se torna um novo homem após ter supostamente assassinado a mulher. Fugindo do crime, acaba descobrindo-se por inteiro, desprezando os antigos valores estabelecidos em sua vida. Sua fuga, em vez de isolá-lo, remonta à criação do homem, de um novo ser surgido do nada. Em vez de julgar os personagens culpados ou inocentes, Clarice Lispector busca fazer deles aprendizes do mundo, onde cada etapa funciona como uma gênese de um ser recém-criado.