Desafios para adaptar o universo Tolkien ao século XXI
26 DE maio DE 2022Para comemorar o Dia do Orgulho Geek, celebrado no dia 25 de maio, em referência ao lançamento do primeiro filme da saga Star Wars, em 1977, a Biblioteca Parque Villa-Lobos promoveu ontem o “Bate-papo sobre o Universo Tolkien”, mediado pela jornalista Flávia Gasi e que contou com a presença das produtoras de conteúdo digital e também fãs de carteirinha da obra do autor, Mayra Sigwalt e Milena Enevoada.
A atividade on-line era aberta à interação do público que participou ativamente da conversa iniciada por uma discussão aprofundada sobre “O Hobbit”, livro que conta as aventuras de Bilbo Bolseiro pela Terra Média e como ele conseguiu o “Um Anel”, objeto central do enredo da trilogia de “O Senhor dos Anéis”. A partir dessa troca é que Flávia, Mayra e Milena começaram a debater os fatores que levaram J.R.R. Tolkien a criar toda a Terra Média e o mundo que estrutura suas tramas, destacando a formação do autor e o contexto histórico no qual ele se encontrava como pontos fundamentais nesse processo.
Tolkien era linguista, e antes de construir o mundo e histórias que marcariam gerações, na verdade criou suas línguas. Os personagens, povos, raças e paisagens que compõem seu universo dão vida a essas mesmas línguas, em um mundo que foi concebido pelo autor em um contexto histórico marcado pelas duas grandes guerras mundiais do século XX e por uma visão de mundo, por parte da Europa, ainda muito imperialista e eurocentrada.
Outro ponto debatido foi o estilo de sua escrita, que valoriza as diferentes culturas daquele universo, ainda produtos das línguas criadas pelo escritor, sua história e as canções que a perpetuam. Em todos os seus livros “as canções sempre indicam algo que aconteceu ou vai acontecer”, apontou Mayra Sigwalt. Ainda sobre o processo criativo que levou o autor a criar um universo tão complexo, as debatedoras ponderaram que o grande legado de Tolkien para autores de fantasia talvez não seja a de reproduzir universos dessa magnitude, mas “escrever sobre o que se ama”, como apontou Flávia Gasi.
Adaptações e os anacronismos de Tolkien
J.R.R Tolkien, nascido em 1892, assim como todo ser humano é fruto de seu tempo, e carregava consigo a ideologia europeia herdada ainda do imperialismo do século XIX. Em sua obra é possível identificar a influência do pensamento racista, do machismo e orientalismo (a representação de povos e culturas não-europeias e orientais como exóticas, atrasadas ou más). Tal fato resulta em um desafio para reproduções do mundo de Tolkien atualmente.
O exemplo mais claro sobre a questão é o lançamento da série “Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder”, que ainda não está disponível para o público, mas vem gerando discussões por, em teoria, modificar a obra original de Tolkien no que se refere à aparência dos personagens. Povos que, na versão original, seriam formados apenas por brancos, na nova produção são retratados também como não-brancos, de maneira muito mais diversa.
O desafio de contemplar as demandas de público e humanas presentes agora e que, de longe, não existiam na época de Tolkien foi amplamente discutido no evento. Milena Enevoada falou ainda sobre como é conciliar a contradição entre amar o universo de Tolkien e identificar a ideologia imperialista em suas histórias, “a gente está lendo e de repente percebe algo e pensa, bom, estou fingindo que não vi isso aqui. Claro que é doloroso”, pontua.
Mesmo de forma consciente e crítica, Flávia, Mayra e Milena não deixam de curtir o vasto mundo criado por Tolkien e todas as histórias nele ambientadas.
Vale lembrar que a BVL tem em seu acervo alguns dos livros escritos pelo autor disponíveis para empréstimo. Ser sócio da biblioteca é fácil, rápido e gratuito.
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